O principal circuito de corridas de montanha da América Latina, a Patagonia Run, realizada na cidade argentina de San Martin de Los Andes, contou com recorde brasileiro na edição deste ano, realizada entre os dias 7 a 9 de abril. O paranaense Juliano Saddock, analista de eventos do Sesc Paraná, correu o mais longo percurso do circuito – 160km (100 milhas) – completando o trajeto em 25h3min17seg. Foi o melhor tempo de um brasileiro na história da competição. O resultado trouxe o 11º lugar geral masculino e 4º lugar na categoria 30/39 anos. A prova ainda conta com outras distâncias: quilômetro vertical (somente subida), circuitos de 10km, 21km e 42km e as ultra maratonas de 70km e 110km.
Com variação de temperaturas entre 4º e 28º graus, o maratonista largou às 11h do dia 7 do lado do Lago Lacar e percorreu 160 km em terreno de trilha – estação de esqui do Cerro Chapelco e parque de preservação do Colorado eram algumas das paisagens – com subida de 8.670 metros (ganho altimétrico acumulado). Este é o principal percurso do evento e válido como Spartan World Championship, mundial do circuito de provas internacional, com 14 mil dólares em premiação. Para quem não é corredor da elite, a premiação é completar a prova que neste ano teve 43% de desistência entre os mais de seis mil atletas inscritos em todas as corridas.
“A prova era para ter acontecido em 2020 e na época eu estava bem preparado fisicamente. Mas então veio a pandemia e ela me tirou do rumo. Tive problemas financeiros, entrei em depressão, perdi familiares. Fui levando como dava e, apesar de não estar treinando com foco em competições, usava a corrida no meio da natureza como meio de escape. Em maio de 2021 milha filha nasceu e dois meses depois passei no processo seletivo do Sesc Paraná. Comecei a ter vontade e esperanças de poder ir no evento remarcado. Como não sou atleta profissional e preciso bancar todos os custos de viagem, com certeza eu estaria feliz somente terminando a prova. A porcentagem de desistência nesta distância é grande e mesmo não conseguindo fazer todos os treinos, ainda cheguei para o almoço”, brinca Juliano.
Para se inscrever no maior circuito da Patagonia Run, o corredor precisa de 12 pontos na Associação Internacional de Corrida em Trilhas (ITRA, sigla em inglês). A pontuação é conquistada terminando provas cadastradas também na associação ou completando o circuito de 110km da Patagonia Run em menos de 26 horas. Feito conquistado pelo maratonista nos anos de 2018 (12º lugar) e 2019 (36º lugar), na categoria 30/39 anos.
Vida de maratonista
Foi na edição de 2011 do Sesc Triathlon Caiobá que a história do corredor começou, quando viu a namorada, atual esposa, competir a prova. “Achei mais fácil aprender a nadar do que ensinar ela a jogar tênis de mesa, que era meu esporte de família. Quando vi estava fazendo dois Ironman em 2014. A primeira ultramaratona foi em 2016”, lembra.
A partir de então, foram mais 15 provas de distâncias menores de Trail Running, nas quais foi pódio em todas que participou. Com orçamento curto, Juliano participou de poucas ultramaratonas. Até que em 2016 ouviu falar da Patagonia Run e almejava um dia conhecer e aprender com um evento de renome em uma das áreas mais bonitas da América Latina.
Mas conciliar a vida em Curitiba, capital paranaense, com treino para ultramaratona é desafiador. Segundo Juliano a rotina de treino é parecida com a de um corredor de provas de rua. “Não tenho como ir para trilhas e montanhas durante a semana, então treino na rua ou em esteira quase todos os dias. Nos finais de semana, quando não tenho evento para trabalhar, vou para a Região Metropolitana de Curitiba e litoral, como Bateias, Quatro Barras e Morretes para treinar em áreas de preservação e montanhas. Temos várias serras perto e somos privilegiados neste sentido”.
Além dos treinos, o maratonista precisa ter acompanhamento médico. “Uma prova de um dia inteiro tem suas peculiaridades. Você tem que conhecer suas capacidades e saber respeitá-las: comer e hidratar na forma e quantidade certa durante o dia todo em movimento, correr à noite e privação de sono. Planejamento e gestão testados a ferro e fogo”.
Após cinco anos treinando para ultramaratona, Juliano se despede da Patagonia Run. “Tive uma estreia, um tropeço e a redenção com o melhor resultado de um brasileiro na história do evento, um desfecho perfeito”, resume o atleta, que justifica a despedida por conta dos custos para participar do evento e família. “A cidade respira o evento e o clima é sem igual! E participar do palco principal de um mundial foi surreal. Lembra muito o Sesc Paraná na realização do Triathlon em Caiobá, razão de começar com isso tudo”, conclui.