Os braços estão ocupados com a guitarra e o pandeiro meia-lua; os pés com o bumbo, a caixa e o chimbau; a boca com a gaita e a corneta. Alguns ainda inovam e acrescentam mais sonoridades e instrumentos. Quem já viu, quer ver novamente. Quem nunca viu, fica deslumbrado. Inovador, único e totalmente bizarro, o Festival de Monobandas 2019 está na sua segunda edição e celebra os talentos supremos desses músicos individuais que, sozinhos, oferecem os sons completos de uma banda. O evento acontecerá, neste ano, na cidade de Morretes, no litoral do Paraná, nos dias 2 e 3 de novembro. Um final de semana imperdível celebrando esse estilo ousado e único de fazer o bom e velho rock’n’roll.
A curadoria e organização do festival ficou por conta da super dupla: o produtor e empresário antoninense, Marcos Maranhão (um dos idealizadores do Antonina Blues Festival), e o músico, one man band e proprietário da Fon Fon Records, Klaus Koti, que uniram os talentos, força de vontade e muita loucuragem para colocar um evento como esse em prática. “Esse é o primeiro festival grande de monobandas do Brasil (segunda edição)”, revela Koti. “A ideia sempre foi essa: fazer um festival brasileiro e mostrar esse estilo ao público, que muitas vezes desconhece, dando ênfase ao trabalho individual de cada músico – instrumentos, estilos e composições autorais”, complementa.
Serão ao todo 12 monobandas, também conhecidas como bandas de um homem/ mulher só (one man band/ one girl band) ou ainda homem/ mulher orquestra. Algumas dessas bandas tocaram na primeira edição, em Antonina, outras são inéditas no Festival. Ao todo 10 monobandas são brasileiras, 1 da Argentina e 1 do Uruguai. “Tivemos que pegar bandas mais próximas geograficamente ou que tivessem algum tipo de acesso que facilitaria para nós, pois esse ano não conseguimos o apoio da Prefeitura de Antonina e nem de outras cidade”, explicam. “Desta forma, totalmente independente, vamos realizar o evento no Pátio Beer, em Morretes, em frente para o Rio Nhundiaquara, que fica na praça do centro histórico dessa cidade histórica do nosso Paraná”, contaram os organizadores. “A ideia é tornar o Festival itinerante, difundindo o estilo em diversos locais”, conclui Marcos Maranhão. Ainda no “line up” do festival terão duas mulheres tocando (onde girl bands) e um músico do Rio de Janeiro que irá ministrar uma oficina de cigarbox (guitarra artesanal própria do estilo confeccionada com sucatas), além dos super Dj`s curitibanos Danny Tee e Eduardo Dok (ambos tem um repertório mega sofisticado quando o assunto é música boa + rock’n’roll).
Mas onde surgiu esse estilo tão original e performático? Os primeiros registros conhecidos de múltiplos instrumentos musicais tocados por uma mesma pessoa datam do século XIII, e eram o cachimbo e o tabor . O cachimbo era uma simples flauta de três furos que podia ser tocada com uma mão; o tabor é hoje mais conhecido hoje como tarola. Depois disso a coisa foi evoluindo e tomando outros formatos, até chegar no blues e no folk, onde o estilo ganhou uma versão mais rock’n’roll. Cantores de blues como “Daddy Stovepipe” (Johnny Watson) cantavam, tocavam violão e batiam os pés no ritmo, ou usavam um pedal para tocar bumbo ou prato. Num estilo mais garagem (trash) surgiu um grande one man band mais moderno e muito apreciado pelos admiradores do estilo, Hasil Adkins. Vale a pena conhecer um pouco dessa história. No Brasil, há muitos relatos mas nenhum registro oficial sobre os primórdios desse movimento. Revela-se que existia na década de 40 um one man band no Rio Grande do Sul. Quando Klaus Koti começou a desenvolver o estilo, há uns 15 anos, ainda causava estranheza no Estado e na região. “Quando eu comecei a tocar sozinho já havia um projeto bem semelhante ao meu em São Paulo, com o músico Marco Butcher”, explica Koti, que tem o projeto chamado O Lendário Chucrobillyman.
Por toda essa história e curiosidades, resta pensar que essa será uma excelente oportunidade de abrir os horizontes musicais e se divertir, numa cidade linda (a segunda cidade mais visitada do Paraná). Para quem gosta de um bom róque vale lembrar que os estilos de cada monobanda vão desde o
blues, rockabilly, rock psicodélico, psychobilly, folk, jazz, rock primitivo-tosqueira, punk e garagem, também terá uma pitada de música brasileira. “Nossa expectativa é que o Festival de Monobandas seja muito doido e mostre mais da música autoral produzida no Estado, no Brasil e nos nossos arredores”, finalizam Klaus Koti e Marcos Maranhão.